quinta-feira, 23 de abril de 2009

Os "independentes" e a salvação da democracia portuguesa



Parece estar encontrada a via de salvação da democracia portuguesa. Manuel Alegre tem reclamado a possibilidade de candidaturas independentes à Assembleia da República. Para ele, será uma excelente fórmula para regenerar os partidos e, com eles, a nossa democracia. De vez em quando surgem miragens deste tipo. Propostas de fórmulas salvifícas das degenerências da partidocracia sem reclamar remédio verdadeiro para a doença. Durante 25 anos discutimos (discutiram e decidiram os partidos) a abertura de candidaturas independentes às autarquias. Em 2001 e em 2005 isso já foi possível. Melhorou a democracia portuguesa? Não. Piorou, e muito. Melhoraram os partidos? Não. Pioraram, e muito. Melhorou a cidadania? Não. Independentemente das questões técnicas associadas à solução de Alegre (que são muitas e complexas) a questão substantiva a discutir é se tais candidaturas serão recomendáveis. Quanto a mim, não são. Não pela sua natureza. Não pela sua bondade normativa ou valorativa. Mas porque nunca resolverão o problema que teoricamente pretendem resolver. Nenhuma candidatura independente (mesmo que poucos saibam o que significa ou implica) tem capacidade de mudar o funcionamento de um qualquer sistema político, de um qualquer sistema de partidos, de um qualquer partido... nem que seja português. Se os partidos não decidirem renovar-se não serão estas candidaturas que os farão renovar. E se for para renovar tal como muitos dos exemplos conhecidos nas autarquias locais, então que não sejam, nunca, permitidas.

A democracia não se faz com fórmulas deste tipo. Podem "soar" bem, mas têm pouca ou nenhuma utilidade.

2 comentários:

  1. Professor Meirinho

    Tal como há Mitos Urbanos, também há Mitos Políticos, ou seja, quando a classe política não tem nada para dizer, que é a maioria das vezes, presenteia-nos sempre com esse mito urbano da reforma do sistema político, que tem como resultados ZERO. Quantos e quantos estudos, já, foram encomendados pelos sucessivos Governos e cujo o destino é uma qualquer gaveta.

    É claro que candidaturas independentes não resolvem nada, antes pelo contrário. Não tenho dúvida que passaríamos a ter não sei quantos Campelos, orçamentos do queijo, da alheira, do presunto pata negra, etc etc.

    Adaptando uma frase do professor Adriano Moreira: "Conhecendo o meu país, e não tanto o país mas as pessoas, estou apenas a prever que alguma coisa iria acontecer.
    Não me regozijo por estar a ser lúcido”

    A questão, que me parece basilar, é a reforma dos partidos políticos. Os partidos não podem continuar a funcionar em circuito fechado, entregues a caciques, de muita duvidosa qualidade. Os Partidos têm de ter a coragem de alterar as formas de selecção e recrutamento das pessoas que ocupam cargos, ou seja, temos de voltar a ter os melhores na política. Não podemos continuar a olhar para o Parlamento e dizer, meu deus que Grupo Par(a)lamentar, onde de legilatura para legislatura, a qualidade cai a pique.

    E como já dizia Eça de Queiroz: "O corpo legislativo há muitos anos que não legisla. Criado pela intriga, pela pressão administrativa, pela presença de quatro soldados e um Sr. Alferes, e pelo eleitor a 500 reis, vem apenas ser uma assembleia muda, sonolenta, ignorante, abanando com a cabeça que sim. Às vezes procura viver, mover-se, e demonstra então, em provas incessantes, a sua incapacidade orgânica para discutir, para pensar, para criar, para dirigir, para resolver a questão mais rudimentar de administração. Não sai uma reforma, uma lei, um princípio, um período eloquente, um dito ao menos!
    A deputação é uma espécie de funcionalismo. É uma colocação, é um emprego."

    Eça de Queiroz, in As Farpas

    Confesso que não tenho uma solução para este problema, não sei se o melhor são primarias, "secundárias", directas "indirectas", etc, porque não sou especialista no assunto, mas não tenho dúvidas de que a solução passará pela Reforma dos Partidos políticos. Assim eles queiram.

    Se não quiserem, acho que caminhamos para o "abismo".


    http://oblase.blogs.sapo.pt

    ResponderEliminar
  2. Caro (anónimo).
    Eis um pensamento lúcido sobre a matéria e muito bem ancorado em excelentes autores. Podemos ainda estar longe do abismo mas os passos que "ouço" vão nesse sentido.
    MMeirinho

    ResponderEliminar