Declarou hoje na SIC Notícias o deputado do PS destinado à defesa das indefensáveis alterações à lei do financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais. No meio da sessão disse: reduzimos a opacidade, aumentámos a transparência, não há dinheiro vivo. Reconheço que se gasta de mais nas campanhas, apelo aos partidos para gastarem menos. E acrescentou: provavelmente as subvenções públicas são muito elevadas. Espantoso. Após um ano de intensos debates e de profundo estudo (segundo o deputado) fez-se de tudo para aumentar a transparência. Mas não houve tempo para tratar do essencial.
Ao acompanhar este lamentável processo lembrei-me de Daniel Campelo. Há uns anos, a classe política portuguesa, analistas, articulistas, comentadores, comentadores de comentadores, entre outros mestres do discurso mediático ficaram incomodados com o voto "consciente" do dr. Campelo a propósito da aprovação do OE de 2001 (era Guterres). Para eles, era a derrocada da democracia, qual pecado mortal que a mataria se o acto fosse repetido por ele ou seguido por autarcas a meio tempo ou por outros de idêntica espécie. Alegres, na altura, ficou o primeiro-ministro e os seus seguidores directos, afirmando ter sido um acto de coragem e de salvação do bem comum, pois a sobrevivência da Nação sem duodécimos fora garantida.
O discurso do defensor oficial do PS da nova legislação sobre o financiamento dos partidos e das campanhas recorre aos mesmos argumentos. Pela sua prosa, a nova lei constitui um passo de gigante no cumprimento do grande desígnio: a transparência. Trata-se, também, de um acto salvador da democracia.
O tempo e o contexto deste processo, os efeitos do que se aprovou e, sobretudo o que não se quis aprovar, revelam o que há de pior no jogo partidário. Para lá dos efeitos, que o tempo se encarregará de mostrar, deixaram uma péssima imagem do Parlamento e abalaram a já débil consideração que os portugueses têm pela sua classe política.
Regressando ao dr. Campelo, creio que a democracia sobrevive muito melhor a "pecadilhos" como os dele do que sobreviverá a actos de salvação democrática como este que os partidos nos querem "vender".
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