quinta-feira, 16 de abril de 2009

As eleições e o povo semi-soberano

Já decorre o ciclo eleitoral de 2009. Como ele abrem-se (ou fecham-se) os processos de recrutamento do pessoal político que, depois de eleito, recrutará outro pessoal para seu mando ou seu apoio.
É a propósito dos mecanismos de recrutamento político que recomendo a leitura da obra "O Povo Semi-Soberano, Partidos Políticos e Recrutamento Parlamentar em Portugal", de Conceição Pequito Teixeira (Almedina, 2009). Um livro que resulta da tese de doutoramento da autora no ISCSP e que observa um fenómeno central da Ciência Política: o dos mecanismos, processos e estratégias de recrutamento parlamentar. Retiro das conclusões um excerto que resume uma boa parte das conclusões: «trata-se, pois, de uma realidade que não pode deixar de conferir aos padrões e às estratégias de recrutamento parlamentar uma natureza profundamente fechada, autoreferencial e preponderantemente partidocrática, por certo responsável pelo crescente isolamento e distanciamento da classe política em relação à sociedade civil, como se de dois mundos ou realidades à parte se tratasse».
O maior desafio consta da pergunta que a autora faz no final da sua caminhada: Se os partidos são essenciais à democracia, o que fazer para ultrapassar as suas tendências fechadas, oligárquicas e autoreferenciais através de novos métodos e estratégias de democratização?. Temo que as tendências apuradas por Conceição Teixeira se renovem neste ciclo eleitoral. A "lei de ferro da oligarquia" continuará a ser lei e R. Michels continuará a ter razão. Ele e o seu amigo (que não conheceu) Ostrogorski. Se hoje nos visitassem veriam - sem surpresa - como tinham ambos razão.

3 comentários:

  1. Caro Manuel Meirinho,

    Este blogue começa a ser uma referência indiscutível. Vou publicitá-lo no meu. E deixo-lhe uma proposta: a mim parece-me um partido que não tem fracturas por acaso. Transformou-se com Cavaco num albergue espanhol. Defendo essa tese aqui: http://tinyurl.com/dj2lou. Convidava-o a ler e a escrever sobre isso aqui se tiver tempo.
    Um abraço,
    Carlos Santos

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  2. De facto esta é uma questão que gera muito interesse no campo da ciência política. Parece-me ser, exactamente, esta a reflexão a ter em conta. Se de facto com o sufrágio universal e a extensão do direito a todos os cidadãos de um determinado Estado foi um salto muito significativo; por outro lado obrigou a uma formação muito mais exigente de muita gente que não tinha noção do Poder que tinham recebido. Estamos a uma distância deste avanço que nos permite reflectir sobre o estado da Democracia enquanto processo. Assim, será que ficámos por uma "partidocracia" rígida, não por finalidade mas por necessidade de organização como sugere Robert Michels? Estará o modelo democrático esgotado a esta formula de representação? Parece-me que nunca estará, pois o sentido histórico é para o progresso (mesmo quando há retrocessos), embora estejamos no momento em que parece-me difícil não considerar os partidos como estruturas demasiado arcaicas para ampliar direitos e "democratizar" a democracia no patamar em que a temos. Terei muito interesse em ter acesso a esse estudo.

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  3. Maria da Luz Ramos8 de maio de 2009 às 09:45

    Lançamento do Livro: "O Povo Semi-Soberano, Partidos Políticos e Recrutamento Parlamentar em Portugal", de Conceição Pequito Teixeira, no dia 12 de Maio, às 15h, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Seguir-se-à uma conferência com o título "Cidadãos, Partidos e Recrutamento do Pessoal Político em Portugal" com as participações de Marcelo Rebelo de Sousa, António Vitorino e António José Teixeira. A moderação será da autora da referida obra.

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