Já conhecemos a mensagem central do PS de Vital Moreira nas "eleições europeias 2009" (não sei que eleições são estas). Um cartaz com brilho. O Professor sorridente. A assinatura do Professor. O nome do Professor. O slogan "nós europeus". Não conhecemos a mensagem central do PSD de Paulo Rangel. Arrisco que terá foto do "candidato-líder de bancada parlamentar laranja" com slogan "Contra a política de desilusão e engano" ou, em alternativa, "Chegou a hora da verdade".
Fiquei supreendido pela escolha de Paulo Rangel para cabeça-de-lista do PSD às tais eleições europeias 2009. Um parlamentar competente, lutador, ponderado, entre outras qualificações que fazem dele um dos melhores activos do PSD em matéria de recursos políticos (coisa que é escassa no partido). Seria de esperar que se mantivesse como reserva para o díficil combate político ao Governo e ao PS nas próximas eleições legislativas. Não se sei se manterá a linha das duplas candidaturas ou se, por opção própria, decidiu abandonar a sacrificante luta politica interna (na qual labuta muito só) para fixar residência mais calma e melhor remunerada em país menos solarengo.
Mas, a escolha de Rangel, o modo da sua apresentação como candidato (só ele) por Manuela F. Leite (MFL) e as primeiras declarações do próprio (às 20.15h ...hora esquisita ... não casa com o se conhece publicamente do pensamento de MFL sobre a importância da imagem) deixam claro duas lógicas de campanha eleitoral por parte do PS e do PSD.
A PRIMEIRA, a do PS, seguindo o pensamento de Vital Moreira, concentrará esforços no debate sobre a Europa, tentando colocar na agenda pública temas que encantam a classe política, servem os interesses de quem governa e que pouco ou nada interessam aos eleitores (pelo menos da forma como são apresentados e debatidos). Vital Moreira e o PS acarinharam o slogan "Nós europeus". Duas palavras e um sentido de difícil descodificação.
- Que mensagem quer passar às pessoas com o título "Nós Europeus"? perguntou-lhe Nuno Saraiva no DN de hoje.
- É a ideia de nós cidadãos europeus, nós como conceito político...respondeu o candidato.
Confesso que me apeteceu reler os clásssicos para perceber esta ideia de "nós como conceito político" e até voltar a Friedrich Tonnies para relembrar os conceitos de Gemeinschaft e de Gesellschaft. Não vale a pena. Percebe-se o que se quer. A cidadania europeia, a polis europeia, a comunidade política europeia, a construção europeia, serão temas centrais do debate trazido pelo PS e por VMoreira. São certamente temas muito interessantes e de escasso tratamento pois só regressam à polis portuguesa de cinco em cinco anos. Mas temo que a centragem do debate em temas desta natureza corresponda a uma estratégia política de minimização da pressão política sobre a acção governativa nas nossas fronteiras. Convenhamos que é bem visto. Veremos é se os cidadãos portugueses se comportam como "eleitores-ovelha".
A SEGUNDA, a do PSD e de Rangel é exactamente a oposta. Centrar o debate em questões internas. Ou, em alternativa (o que vai dar ao mesmo) aproveitar questões europeias com forte impacto no funcionamento da nossa vida económica e social para os esgrimir em terrenos nacionais. Por aqui, cumpre-se o objectivo do PSD e de Rangel, quando ontem declarou que "chegou a hora da ruptura com o autêntico buraco negro para onde o País caminha devido às política do Governo PS". Para este efeito, Rangel é um bom candidato. Diremos que se trata de uma continuação das funções que já exerçe.
Ambos os candidatos serão eleitos para o Parlamento Europeu. Um defendendo o seu PS e e uma nova polis europeia. Outro defendendo o seu PSD e a urgente necessidade de tapar o buraco negro da governação socialista. Por alguma razão se chamam a estas eleições as "eleições europeias".
Ao recordar os clássicos também me ocorreu que as primeiras mensagens de um e outro candidato ao PE ressaltam a respectiva proveniência e pensamento: VMoreira tipifica a «Gemeinschaft», na origem política mais comunitária, na ordem ideológica em que acredita e também na vontade natural, quase efusiva de ser eurodeputado; Rangel, antagonicamente, consubstancia o «geselschaft», mais definido pela sociedade laranja em que se enculturou politicamente, não fazia desta possibilidade um sonho de vida, mas aceitou-a como saída propositiva, deliberada e racionalizante, tradutora de uma estratégia de concertação com a Líder a quem é leal.
ResponderEliminarNa acepção de Tönnies, e do homem enquanto ser gregário, esqueceu-se o alemão de evidenciar que há indivíduos mais enraizados no colectivo do que outros: Vital já está tão tão europeu que esqueceu que antes de ser europeu ou 'nós europeus' devia ter dito sou português ou 'nós portugueses'; Rangel, «europeísta convicto» parece tão ensimesmado das necessidades partidárias que serve com afinco e responde sem delongas às incumbências, desconsiderando potenciais vôos cá dentro.
Tönnies (que me parece que é Ferdinand) deveria ressuscitar por estes dias e conhecer ambos. Ficaria primeiro perplexo e depois maravilhado! Talvez em seguida, nos anais da Sociologia, em vez de nos presentiar com «Comunidade e Sociedade» retratando o colectivo, publicasse «Vaidade e Lealdade» retratando o individual, num mesmo quadro analítico de mutabilidade entre dois mundos ou dois homens profundamente diferentes. Não seria preciso muito, nem anseios ou agravos. Bastaria ao sociólogo ser mero observador e constatar factos.
Tens razão. O homem chama-se Ferdinand. Julgo que não ficará chateado comigo pela troca. Ficaria pior se visse estes "modernos" políticos a tratar o conceito de "vontade orgânica" da forma como o fazem.
ResponderEliminarQuanto ao candidato Rangel (não sei se leu Tönnies)espero ainda para ver se é «europeísta convicto» ou se carrega o fardo da lealdade de que falas.