quarta-feira, 22 de abril de 2009

Jorge Miranda - um verdadeiro homo cívicus


Hannah Arendt inicia uma das suas obras de referência, "The Human Condition, 1958" com o esclarecimento da expressão vita activa. Designa três actividades fundamentais da existência humana: labor, trabalho e acção. Deixemos as duas primeiras actividades para outras notas. Fiquemos com a acção, que justifica este "post". A acção, segundo Arendt, «...na medida em que se empenha em fundar e preservar corpos políticos, cria a condição para a lembrança, ou seja, para a história». A acção respeita à dedicação, com paixão, aos assuntos públicos e políticos.
É aqui que entra Jorge Miranda e a sua disponibilidade em candidatar-se a Provedor de Justiça, apesar da lamentável trapalhada que envolve a substituição do actual provedor. Sobre o caso já disse de tudo. Não vale a pena insistir nos adjectivos com que, sobre a matéria, já se brindaram os dois maiores partidos da república.
Mesmo assim, Jorge Miranda aceita que os deputados o escolham ou o rejeitem. Sujeita-se ao escrutínio dos homens que ocupam uma sede que ele próprio ajudou a construir. Sereno como poucos, aceita, enfim, os piores vicíos do "Estado" dos nossos partidos políticos. Só um homem superior e com carácter raro aceitaria, com este grado, tais defeitos e feitios da nossa democracia. Na entrevista que hoje concedeu à SIC Notícias ficou claro que mantém a esperança que o deixem viver de forma actuosa na Provedoria de Justiça. Jorge Miranda representa, à maneira aristotélica, um bios politikos. Mesmo que não o deixem dedicar-se aos assuntos públicos a que se candidata, criou e continua a criar as condições para a lembrança, ou seja , para a História.
Quão escassos são estes homens.....E tão mal que a democracia os trata.

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